Thursday, June 28, 2007

gravidamente obscura


O seu olhar apatetava-se em caretas despropositadas – também o meu.

Sinto-me suja de tanta complexidade – mas até gosto.

A sua beleza não é negra, mas está grávida de uma cor obscura.

Torturo silhuetas quando estou sózinha – a vingança é um acto simbólico. No fim ninguém se vinga efectivamente de ninguém. Só sombras vingando-se de sombras.

Utilizo o riso como um rigor vitalicio.

A palavra coração desperta em mim a predadora adormecida.

Uso a negação como muita gente se veste com roupas escuras – mas prefiro sem sombra de dúvidas as cores claras.

Antes puta que pudibundo modelo de beleza.

Se me tiveres perdes-me. A posse encalha-me nos consumíveis. E eu sou bastante desperdiçável.

Ou és livre ou de mim não te livras. Mesmo quer isto só se passe num livro.

Encaracolo-me no nada, como quem retorna ao nascimento.

Frisar coisas. Frisar cabelos. Free...

A magia adicional reside apenas na vontade de te tocar furtivamente?

A vontade é aditiva – soma abundâncias ao que já é abundante. É neste sentido que se justifica a sobreabundância como uma fatalidade.

Não deixes que os Icaras fiquem por baixo.

Posso achar tudo uma excepção – e no que me diz respeito estou a mais. Mas isso não me incomoda nadinha.

Os desenganos têm a prova facilitada, como os alunos estudiosos. Desenganemo-nos consequentemente dos desenganos.

Os castrados elevam a voz como se esta saísse de um buraco no meio da cabeça – nós elevamos o peito, para que a voz saia por todo o corpo – transpiradíssima.

a rosa e o camaleão


Esfregava-lhe tocatas na tromba.

Doces dedos deslizaram delicadamente para concordias injuriantes.

Beijo a bordo.

Rubor. Jovens jogadores de basebol. Salsaparrilha. Queijo da serra. Agrado. Òsculo. Oculos escuros. Gin tónico. Grande gaiteira!

Lascívia pode ter luva mas não tem lexívia.

Selvagem, extremista, por vezes rude, raramente cruel, isenta de culpas – ela caça-me com razões ousadas (e também rosadas) – como poderia odiar tal barbie.

Em cuecas de rendas sandes de leitão.

A alegria que me propunha chicoteava-me nos sonhos.

As minhas amantes não são como o sol. Eu sou solar quanto basta. Elas são da côr de coral. Ou vermelhas como certos hibiscos. E agradam-me as suas vastas cabeleiras, mesmo nos dias mais quentes de verão escorrendo seus cabelos louros os negros que fazem cócegas ao longo da coluna vertebral.

Seus peitos são dunas ou torres de babel? Nada disso: são peitos suficientemente jovens. E eu não sou de metáforas semioticas nem de contemplações biblicas.

A rosa mascara-se de mordentes adornos, e eu dou a cara desadornada aos seus perfumes, militando ferrenhamente nestas estapafurdias vanguardas.

A sua voz é agradável. E os seus passos são leves. Mas parece que recebem da terra uma lava que transborda toda em mim.

Édipo dito tirano – arrastando-se no invisível, demasiado contaminado pelos deuses. E recordando os amores maternos com precisão machista.

Sempre que digo erro – o desacerto realça os acertos: para auto-estima alheia.

Sou camaleoa no que diz respeito ao amado ente – a minha próximidade é paródica, e parodianto partilho dissidentemente, com mil gemidos e outros tantos risos. Quem camaleo consente-se.

o duche e o dossel


Sentia-me bastarda sempre que me duchava.

Nenhuma era arquitectada com o acidente sofre da falta de pompas.

Desmaiam para o bem os que palitam os dentes para o crime.

Há quem confunda altas velocidades com heresias. Estas aparecem frequentemente na vizinhança da imobilidade.

Afundo-me no dossel para me honrar externamente – faltam espelhos expressivos (ou expansivos) à eternidade.

Se o absoluto é uma esfera poderei deixar de lhe ver os hemisférios ou outras corriqueiras divisões? Quando nomeio o absoluto surge a mosca – e há nos rios de tinta que a ontologia faz correr muito cheiro nauseabundo.

Uma alma forrada com pele verdadeira... de quê?

A minha amante esbranquiça-se noite após noite – e sinto-me soberana dessa branquidão algo protocolar.

A serpente já sente a carcassa do hipopótamo.

Ateia-me! Minete de ateia. Matei-a?

Agora és a herdeira bronzeada de uma beleza escarlate – dedicas-lhe momentos de braseado pudor porque sabes que o respeito é bastardo da imoderação.

A arte pedes labirintinas dissonâncias, altas e expeditas, sujas como a natureza, pulcras sempre que possível – embora a beleza acene como um crime vindouro.

Não sou dissoluta nem vibro na desonra. No fundo sinto-me uma morcega africana que prefere as horas frescas para sair dos buracos.

Cada acto de criação nos apunhá-la, porque ao substituir um pormenor substitui devagarinho o resto do mundo.

Falsas estimas – ligas de licra.

Omissa como uma música que nos esbofateia só porque nos recorda outras músicas com letras canalhas.

adultério de piquillo


E muitos são os que adulteram falsamente, porque a si não pertencem, nem a outros, quanto mais à rede que os espia compulsivamente.

Aos meus desvarios chamo escorpiões da destemperança.

Empolgada decifração de uma obscura evidência.

O desfazamento não é entre mim e o outro, mas é entre a inconsistência do mesmo, que não se identifica nem como unidade degradada, nem como descalabro exótico.

Por seus pensamentos medem, minhas ações não devem ser mostradas a menos que este dano que geral mantêm, todos os homens são más e em seu reino do iniquidade.

O presente é babilónico, mas não dispensa o guacamole.

Auto-adulteramos com muita frequência porque temos necessidade de pôr cornos na consciencia.

A inactividade nativa era revigorante – nós eramos estranhas e ocidentalmente moles na incapacidade de estar bem quietas.

Remanescerá, como se a data da eternidade estivesse escrita no calendário.

As nossas faculdades animais faziam render o obscurecimento, como se fora um lucro partilhável.

Registo adolescente de uma excentricidade palpável – que depois se torna banalidade, ténue vício sem cumes profiláticos.

Realças a rebeldia, mas acabarás mais burguesa do que uma vaca anafada de familias reais.

Atribulada cilada? Ou é um efeito do tempo – armadilha que se propaga naturalmente à linguagem. Ou não será o absoluto a traição mais inclemente?

A cobra enrosca-se na pirâmide... limpas a vista com o piassaba e já não é mau – haverá uma vista anterior, incontaminada? Ou preferes a sujidade pouco épica das escarafunchosas novelas?

As datas tornam breves as coisas – há um tempo para admirar as ainda parecidas presenças, e outro que nos limitamos a tecer rapsódicas mnemónicas – e até a nostalgia definha até às excentricidades enfabulantes.

o magma do mal


Pelo mal serei curada? Será a formula do bem o mal em pequeníssimas quantidades?

Poções que bebe a sereia destilam limbos sujos, onde a esperança cede a criaturas hibridas – podem chamar inferno a este espaço adiado, que ainda não é decadente porque ainda tem tempo apesar das agudas pressas. Daqui nada podemos arrecadar senão a morfologia que se acerca orgiacamente do informe.

Com olhos de duende o leque solta o lavagante que desfrutará do teu corpo sem clemências.

Benefícios maléficos melhoram as minhas incertezas.

É o amor sulfúrico, arruinado, passando por renovado em pensões magrebinas rodeadas de pameiras carnívoras e com romances baratos há muito abandonados que não apetece nem apetecerá ler...

Dá um banho ao inexprimível.

Assim retorne rastreada a índices amigos, sem esperança de prefácios moralistas ou considerações inutilmente barrocas como esta.

Eras amigável e necessitavas das minhas curvas transgressoras, mas os meus nervos vacilaram e fizeram fundir o aço de que outrora me orgulhara.

Não podes pedir a Pã urbanidades, mesmo depois de morto – Pã é o que nos debruçava pânicamente sobre o mundo, mas hoje a civilização é feita de implosões, e se secretas, melhor para todos.

A noite é uma cortina onde os crimes serpenteiam – húmidamente oferecemos vulnerabilidades como hieroglifos e pedimos socorro ao sono profundo.

Mas a transgressão transformou-se numa taxa - trafica os humores da razão, e os demónios que a tornam aleatória.

Melhor ser vil no covil do que vil em vaudeville.

Recebes a reprimenda e tomas-lhe o gosto – há algo de aveludado e verde nas coisas sardónicas.

o caracol escolástico


Acuse-me assim não o mundo, porque não tem boca, mas a gente que por cá anda a decantar-se (e desdentar-se) em redobrados ressentimentos, pois tenho decantado de tudo um pouco, e tenho bebido acompanhada de mim e de quem muito me aprovera. Não faltam paixões nem contentamentos para rechear memórias e enchê-las de vaidosos emblemas. Estou cá para isto, não para me desertificar em depenadas penas.

Gladiadores escolásticos entram nas palavras como num contencioso mortífero – é certo que a linguagem é súbtil, mas está pejada de armadilhas. E há um enrubescimento eristico que toda a teoria supõe – mesmo quando falas do amor entras em guerras filosofais, e falando das subtilezas e das atracções estás em plena guerrilha verbal.

Os ventos pouco surpreendem o caracol que sumamente se habita e nomádicamente distribui a sua baba – e eu aqui, junto à fronha, também caracoleio, e devaneio sobre romanas damas saídas dos frescos violentamente coloridos das pompeias.

O tiro sai pela culatra, mesmo quando não disparas e estás desarmado.

Mas também te posso garantir a constância, virtude arcaica, sem afectações de tédio – basta sermos outros a cada momento, actores que se multiplicam na heteronomia de serem o mesmo. Os condimentos são amigos do bom senso.

Façam-se nossos os apetites mais afiados, com compostos ansiosos, e ceda-se ao melancólico impulso do palato.

Somos enfermos de uma doença que já removemos.

Apesar desta ruina de afectos ainda devo estar cheio de fragmentos de doçura...

Molhos amargos emolduram-me como alimentação – sou um festim deveras brejeiro, mas terás que passar a àcida prova do molho para chegares à mais tenra carne.

Podes queixar-tre da carne, mas não da carnalidade.

A política no amor antecipa outras revoluções que só são sociais nas redes de aspectos partilháveis – não somos internos senão nos orgãos que devagarmente morrem. Quanto às interiorisses são o paleio de uma linguagem doente que qual crocodilo esfomeado, se prepara para nos ferrar inclementemente o dente.

Os implantes mamários da retinta deusa dão uma lição de beleza a cabeleireiras que gostam de paus de cabeleiras. Não se trata de um mero caso de futilidade ou de imagem – há uma coragem ignóbil em nos sentirmos borrachosas, egipciamente sintéticas, no que é inutil embalsamento sem piramidais eternidades.

falácias numa cabana


Meu coração acerca-se dos teus cumes como de uma taça por onde a imperatriz bebe em silêncio – mas dispensa das adulações a fecunda flatulência.

Esta alquimia severa engendra monstros que não os da razão ou da sua mingua – o amor pasta a sua loucura como uma negra criatura invectivando cornudamente contra tudo. Preferias os açucares e as molenguices e todos os gestos sensíveis, mas esta ferocidade indegere o mundo, e pouco se lhe pode fazer.

O palácio do palato sabe que provar-te é venenoso, e que a tua boca não é um copo, mas uma silênciosa degradação das invulnerabilidades – és inescrutável, e sabes que a perfeição é a soma das impurezas sem que te apercebas do demoniaco fel.

Constrois, como o castor, a tua cabana como uma beleza pessoal, e o crítico afia os dentes como uma moto-serra – mas são as inclemências do tempo, ou a ironia das gerações que levarão tuas moradias destroçadas – ninguém recordará os contornos bizarros que deste a requintados sentimentos ou a brutais relações – serás impessoal ainda antes do tempo.

As mentes só se podem amar em dissimulação – a comunhão dá-se como um incidente teatral que desfaz circunstancialmente desimpedimentos – dizes que a ofensa e a desonra terão papel predominante nos actos finais porque as comédias são a vida demasiado concertada, mas o desfecho da peça será sempre uma surpresa.

Por mais que o trágico e o tempestuoso se insinuem, com suas palavras carregadas e tentaculares, sinto que quer nós quer a natureza, nos seus grandessíssimos efeitos, somos algo de tolo e falta-nos as arte de dar um sentido sublime ou um qualquer desfecho à vida de à mortalidade – é esta abertura cómica, esta incipiência amorosa que nos deixam cómicamente aventurosos, sem saber para onde ir, acompanhados desconcertadamente de nós próprios.

Fulminante falácia à qual sobra demasiado efeito.

O amor como alterne de estranhesas.

Sou tórrida nos erros, desvios, maningâncias, desamores, distânciamentos, palavras compridas, considerações incertas – e aceito os sisudos julgamentos sem cinismo, e com a tranquilidade de quem passa, com esmero, roupa a ferro.

Wednesday, June 27, 2007

cabála de alguidar


Por isso olhei acima da verdade – e vi os tendões de aquiles da sabedoria e as matilhas de cães que fidelissimamente os mordiscavam.

Como um burro que se adora obliquamente em apuleia prosa.

A natureza encavalita-se no cavalete através de tintureira mão – é então que ela esturge diletantemente, não no ídilio representado, mas na antítese do sublime – algo que se faz mansamente acariciável.

Os mesmos desejos se renovam apesar do tédio, dolente censura que se abate sobre as repetentes sensações.

Poções que embebedam o céu.

Ela diz-me que penou o dobro para corrigir a correcção – mas eu só a ânsiava incorrigívelente minha. Que comichão!

A sua piedade é suficiente para me devorar, assim como às minhas complicadas incurias.

Cabála envergonhada que tudo abala, que esfrega o nome de Deus com escova e alguidar.

O escandalo ficou carimbado na minha testa para que o possa ver só em espelhos e como algo nada enigmático.

Destravo-me como uma prudência que se esperguiça.

Minha maminha xamânica, minha destravada punheta.

No abismo bissexual da retorta salmodeia a tortilha torta.

Um critico flamejante, isto é, práticamente flambée.

Desde que te deixei, afadigas-te em fidelidades entranhadas, e eu passo muito ao lado das curvas em que se enguiçam as tuas estradas.

O olho inaugural está fora de qualquer mente – caso haja olho, ou a mente não seja uma mentira.

O corvo cava o covil do corcunda. A montanha aspira a noite. O mar deforma as tumbas. E a pomba arrasta a paz como uma fraude a fazer a cama ao espirito do santo.

ar de motard?


Eu fui aqui e acolá. Com o meu cabedal de motard ofendendo ruidosamente (ó futurismos) os que se recatam em casa contentes de habituados amores ou da mingua deles.

Ofensas velhas relincham afeições novas.

Estas albas deram a meu coração outra vez uma outra juventude, e uns venéreos ais, e ensejos de provar mais e melhores amores.

rumba champanhesa


E a mim virá, e me beijará com champanhosos beijos em nada servis – e viveremos em insones arredores como corças corsárias...

A rima macaqueia a pobreza de ser o eco forçado de palavras tão ordeiras e tribais – é certo que a tirania dos versos possibilita achados pitorescos, mas não nos livra da maçada de inuteis palavras que se acocoram no extremo de cada linha. Por isso a prosa respira com uma porosidade granitica que falta ao polimento do verso.

Foram-se as eras dos monumentos, com seus pesados e funestos metais e túmulos onde reposam herois e tiranos (distingui-los hoje é insensatez) – não que goste de eras incorpóreas, mas deleito-me nesta ligeireza, por vezes àcida, em que nos é perviligiadamente dado viver.

Os clavicórdios aterraram nos meus tormentos. E eu senti-me titubeante, com um hálito a precisar de ser carregado por correntes elétricas e musicas que sacudam popisticamente o ventre.

A iniquidade é incontornável prova de uma imperfeição dos pormenores do mundo – os deuses podem estar barbaramente ou monoteisticamente nas generalidades, com ardores apofáticos ou arrumados universais, mas o pormenor clama por mais e mais justiça.

Há palavras que se deitam connosco por curiosidade delas e que acordam pouco donzelas porque estiveram em experientes mãos.

É na variação que repouso – não que queira manchar a pureza dos amores com hipócritas traições, mas a natureza, e a consciencia que enxutamente exala, pede tudo menos a uniformidade onde fascismos sempre afectivos arborescem.

Há uma pré-posteridade a que somos chamados como a algo adverso: polimentos classicistas, condutas ditas exemplares. Mas a minha arte em imoperfeitamente me esgrimo gosta de máculas, de imperfeições, de gostos mal-assumidos, de vacilações, e até de algum grotesco – gostos romanticos? Sim! Mas nada de macaquinhos pitorescos.

O universo estende-se parcialmente para cada um do seu cantinho – a sua vastidão é demasiada para os nossos tamanhos e para os saltos com que trilhamos os seus caminhos. Mas esta dimensão é tão encantadora e canora!

Não sei dançar condignamente a rumba, mas sei insaciar-me nos arrotos pirateados do rum.

politonalidades verdejantes


Fitas o zodiaco com ganâncias de alquimista só para enganares os anos – os signos abanam o teu orgulho – e entras numa beleza muito agitada como num refrescante barulho.

Para seres a floresta onde rejenuvescemos terás que verdamente arder.

O instante perverte a beleza porque abole os contornos da figura em favor da concentração – assim as formas se dissolvem no brilho de quem se entrega ao olhar – e tudo o mais é subterraneo ornamento.

Maquilho porque quero partilhar ilusões, como as páginas com frontões das seiscentistas iconologias – é certo que falseio o que é conceito, fazendo-o pastar sem mansidão em selvas de metáforas.

Sou idolatra, pois amo sobretudo o que se dá a ver, adorávelmente – como sumérias deusas que deixam o sexo descoberto na sombra bem fresca de uma palmeira.

Farfalhudas venturas, folhosas excelências, frases que balançam na verdura fremente de algo rocaille...

Não partilho as sádicas jouissances de Juliette – a crueldade é vertigem de um teísmo que se despe apressadamente de deus, sem se despedir dos deus recursos – e eu há muito que moro numa politonalidade hedonista.

Eu não exprimo a beleza como quem a leva a passear de coleira a uma salada poética algo hermética – quando penso nos membros desmembro-me – a mão, o pé, as unhas, o corpo venusiano, a testa que desce até ao olho, e o nariz como um pico que me muda os quereres, e as covas que se inclanam para me darem a satisfação de me querem.

A actualidade arregala-me – a moda, na sua hábil incoerência, é como uma profecia consumada – é ela que me dá uma sofreguidão membranosa.

A montanha pariu escamosos medos, e o mundo alargou-se em arredores otomanos onde posso amolecer almofadadamente em drogas arábicas.

Incertezas balsâmicas – provadas uma a uma, como aperitivos tomados nos momentos em que apetece.

A morte subscreve insultos, mas livra-nos de uma velhice em que não cessamos de repetir juvenis façanhas com uma melancolia podre.

exílio emplumado


Um amor novo, turbulento e veraneante, encharcado de azul, e com muitas iguarias à disposição.

Os teus hinos afagaram e ampararam os uivos da noite - os clamores selvagens da música acenderam bifurcações, e os doces crescendos fizeram sibilar os deuses antigos.

Porque sei que não são as minhas canções ou as palavras mágicas e cercantes que me vão fazer merecida.

Desencapa o argumento, mas não capes o argumentante.

Ela hasteia elogios como plumas adictivas, mas eu estou no outro lado, nas ilhas canalhas, onde o canibalismo é metafórico e a pele mais densa.

Olhas o vidro e aparece uma cara, como uma revolta da ralé num galeão. Julgas que és tu, mas é o descuido de não sermos o que parecermos – talvez haja uma pirataria divina nesta interface.

Emendas as passagens? Não podes domesticar as linhas que te confundem com o absoluto, embora estejas desvairadamente num dentro que também é um fora.

É este exílio que me empluma e faz dizer, como se oferecesse presentes a obscuros visitantes.

o argumento curva a musa


A fúria às vezes dispensa, por equivoco, imerecidas cantatas.

Os baixos continuos iluminam-se no infatigável retorno que suporta as superficiais melodias dos altos.

Perfiro linhas repteis a linhas rectas.

No tempo delicado dos números, gastas demasiada saliva com inicitivas vacas.

O equivoco torna habil a pena e matreiro o argumento.

A Musa rasteja nos restos da ascensão, no exame fulminante dos rostos que resistem às seduções rápidas.

Se o tempo te proporciona inevitavelme enrugamentos, antes seja a satira a moldar tais variações.

E faça-se pelo tempo cinzeiro, despojando o porte do todo e o aparato das partes.

Dê minha fama crina do amor mais rapidamente do que cronometra a vida dos desperdícios, assim

Previna o que nos excita, embora tenhamos a curva faca da Musa encostada à garganta.

Mais flores que eu anotei, contudo nenhuns poderia ver, mas doce, ou colora-o teve o surrupianço.

Negligências de verdade tingem a beleza de um tom grave.

A harpa sabe-nos a multiplicidade, porque os dedos acariciam as cordas como se desesperassem dos adiamentos a que os paraísos prometidos parecem sempre sujeitos.

O silêncio não se desculpa silenciosamente.

Mentiras de tesoura fortificam a loura.

Os sarcófagos são burocracias de mortos canalhas – antes nús, fevorados, reduzidos a pó do que retidos em perservações usurárias, prisioneiros de pinturas e embalsamados em subterrâneos asiáticos.

Parecer é retorcer-se, e amar é serpentinar-se – por isso os ídolos parecem-me menos mercadoria do que os deuses totalitários.

silva de fábulas cromáticas


O cordeiro humedece o Uno, mas o lobo torna o Múltiplo mais lúbrico. Nós somos o interlúdio erótico dessa bizarra fábula.

O inverno faz das ausências maníaca saga. Ou empresta-nos, para consolo, musica magra.

O prazer do ano flirtando com as sucessivas estações!

Não sei remover o verão quando surfo nas inclemências cavernosas dos invernos.

Sei adolescer em tempo de colectas – o mapa das emoções não é arbitrário.

Coliges esperanças alheias, mas não sabes se as deves publicar.

A abundância descaída dos fãs.

E à infilhada silva do múltiplo alguém entrega orfãos do disperso.

O carinho, por vezes tão maçador nas estações da moleza, é inibido pelo inverno, mas resiste nas alcovas aconchegadas.

Não quero saber do branco suplicante dos lírios porque lhe prefiro o vermelho salpicante das bacantes.

O prazer desfila com a sua cáfila carregada de especiarias, e eu penso que as cores são mais profundas que os conceitos, e que as iluminuras iluminam os nossos jogos, e que tudo faz um complot para que a vida parece mais desenhada.

O teu violento dialecto arrebata-me violetamente.

A sua respiração e o cheiro que destilava vergavam todos os juízos possíveis, invadindo-me de uma simpatia mais absorvente que a morte.

O orgulho roxo, na verificação ingénua dos teoremas práticos, amacia as intermitências àcidas da complexidade.

Um desespero andrógino, branco no que é espinhoso, mas escarlate nas destemperadas ofegações.

Vingas-te, através dos incondicionamentos do sexo das reticências com que te flirtava – e até a minha respiração já anexaste.

Comia-a até a morte, como um figo que deseperou de ser verde.

orfismo mamífero


Vivemos como quem se contamina, e assim se alegra.

Todos os critérios são hibridos.

Ressurrecta repugnância, eriçada substância que agrava as danações.

A dignidade é a exibição destemida da transparência que sobra à comicidade.

Que as ervas daninhas subam pela esposa, até que a seiva àcida corrompa a fervilhante doçura que lhe afinava a voz. Então saberemos banquetearmo-nos com clamores mais dissonantes e afinfar as báquicas manápulas pelas pneumáticas carnes.

Saboreias o rubor do pudor como um perfume que sobra à rosa.

A beleza órfica desflora nocturnamente os nomes.

As melosas perversões levam a maldosas conclusões.

Disproporcionamo-nos nos parentesis sucessivos em que a consciencia se entrengolfa – fora disto somos desportivas na dispensante afalibilidade – os outros e as outras são o suave vício de um povoamento amoroso.

Vicejas como um ínicio que escorregou no explendor.

Habitamos no logro, ou encolhemo-nos em logradoros?

A beleza é o véu que mascara a mancha.

As coisas à volta são a feira onde os olhos se revoltam porque não entram sem rodeios no rodeo de si mesmos.

O previlégio venéreo da galantaria - como se a juventude fosse um desporto eterno, e nós fossemos arrastadas para uma imprudente vastidão.

As falhas amamentam os amantes.

O fabricante aprimora-se nas agradáveis críticas, mas a raínha quer joias que façam justiça ao sexo.

São cascaveis aqueles erros que traduzem imperfeitamente verdades, como se houvesse tradução condigna para o quer que seja.

abismos comunais


O actor rouba-se na linguagem que não é sua – o amante, mau actor, perde-se nos sucessivos desmascaramentos, a que o tom, contradictor de linguagens, corruptamente o empurra.

Os nobres medos soltam-se episódicamente como borrões que atritam a escrita – e afinal os abismos em que nos interioramos são equívocos que se desmancham como uma tenda que cai para si sem ingerencias de ventos.

Falsifique-se o que é falso, como uma verdade revoltosa que sacode búfalos para extremidades apocalipticas com muitos olhos, mas dignifique-se o convívio, como a imanência de participarmos numa lenta festa em que os afetos são o corpo possível e a embriaguez teatral da consciencia.

Deva assim mim encarar-me, como iludida arte que se enamora de ser sabedoria escanqueirando-se e irrequieto suporte desarmado de pensamentos.

A movente avelã que me altera o vago.

O que execras não é a comédia com que os enganantes enganam, mas o desencanto com que nas suas acções vão enrugando com uma entranhante estranheza os aspectos mais doces do mundo.

Funcionamentos de coração não dão a cara pelos mandamentes que nos comunam.

A beldade se escapa da maçã com que Eva nos prometeu a centelha dos conhecimentos, e esta deveras se renova na serpenteante resposta do virtual.

Nada redimirás - poderás no entanto remoer o que queres ou não dizer, ou remover o que te impede de fácilmente fluir.

Imotos? Nem os deuses. Na quietude a graciosidade arrefece.

E a abastada natureza desposa-nos a cada momento sem olhar a despesas.

Proprietárias só de suas faces e facécias.

Servas da excelência, enamoramo-nos indeterminadamente de demasiadas coisas ao mesmo tempo.

A flor do verão delicia e dilacera as varoas.

E esses pensamentos deslocam-se como tubarões, num insomnífero oceano de desejos.

Monday, June 25, 2007

convite


Estendes as tuas tendas com habilidade biblica, e assim espero que me convides para desfrutar de tais perfumados aposentos.

Dos guarnições do mal espaireces ternamente os dedos para com doce malignidade me poderes acariciar.

Heis-me enguiçada e só, nesta selva de possibilidades conquistadas a eito, e saboreando a mingua que no muito acumular se fez. Que proveitos?!

Só na alegria sei encontrar o movente descanso que dizem saborear os deuses. O que nem sequer é difícil.

Tenho o humor como adjunto nos detalhes, mas o absoluto como medida das inconveniências.

És perspicaz falcão que seduz mortalmente e eu sou cadela que simula servidão na trela.

Olhar a talha dá-me um prazer de formas do “antigamente”, porque nela o que é curvo abriga o que nos chega da nascente.

É o amor que enobrece, não os ornamentos morais ou as circunstancias nobilitárias que nos adjudicam ao nascimento.

o escarro da fortuna


Procuro razões que não venham em minha defeza.

Excitas a desonra como uma técnica para polir a santidade. Ò sacro masoquismo!

O conhecimento das vontades exercita-nos para a estranheza.

O teu repto era que me deixasse raptar?

Estrangulas-te no que julgas que eu julgo.

O caminho ausenta-se caminhando? Então dfesencaminhemo-nos como caminhantes.

A minha laringe, em mudos movimentos de memorização, repete teu nome adocicado, e o corpo destila uma canela interna que o perfuma até às entranhas.

Quero-te demasiado profana, isto é, sem polimentos para eternidades ou perfeições de ginásio.

Faço o que faço retorcidamente porque estou nas antípodas das éticas quadradas.

E afortunadamente envelhecemos para dar lugar a outras, menos enrugadas e mais destemidas, incapazes para prudências e vítimas tolas de futuras feridas.

Deverei amar-te com um òdio que contra si mesmo se debate?

Odeie-me o vulgo como queira, desde que eu me não odeie e me levante mais inteira.

O escarro da fortuna esculpe deuses nas encruzilhadas.

A fatal lingerie e outros grifos de estimação, para que o narrador, “oitocentista”, possa rechear os seus parágrafos de deliciosas cangalhas.

De início vem piramidal, com culternas plumas e outros tergeitos, mas acaba subtilmente aticista, em cima de um terraço ao amanhecer, fitando o mar que emerge da noite e que se desenrola como um tapete na vista até ao meu peito.

O seu gosto de início era desagradável, mas com o condimento certo e talentosas mãos a temperá-la, saboriei-a como incomparável iguaria e sumptuosa presença.

Algum glamour, mas pouca uva.

as vantagens do fauno


Gosto mais que mo digam pelas costas, pois assim poderei desfrutar da sobreabundancia das baixesas.

Cultivas o cinismo como quem distribui galhardetes.

Soerguemo-nos da partita da dor – a musica não sabe conservar segredos.

Posso, acima de tudo, doar-te alguma ausência, ainda que envolta na confusa teia de fragmentadas presenças.

Do enjaulado teorema crescem as vacilantes deduções – mas terás que o soltar, porque as provas do amor não se alicerçam em nenhuma geometria ideal.

Confundimos julgamentos com afectos, mas os tribunais são invenções tardias, e a afectação é uma próximidade animal que nos muda arrepiadamente a partir do pelo ou da pele.

Tenha-me assim como te teve - alisadora ideal de desenvoltos dramas.

Esperamos que a matéria acorde para reinar em lugar do sonho do rei.

Quando o sal das dúvidas salgar o tutano por onde se esgueira a consciência eu saberei saboreá-lo, porque onde a dúvida não pasta grassa o deserto insonso do desinteresse.

Não tenho método, tenho olho. E sobrancelhas a enfeitá-lo!

A servidão venal afadiga-me em lutas nada angélicas, mas a adversidade também é fabrica de virtudes.

O fauno que te afaga é o ferimento que nos refaz em arte.

A sua fraqueza de polvo tem tentáculos em partes desconhecidas do teu corpo.

A contabilidade de uma história tem versões que nascem nas mais ternas desatenções.

Perder-te é um imperativo que me faz mais gloriosa e menos apressada.

A vantagem é a despertença, que me mostra as coisas mais despertenciosas.

Carregamos as palavras como erros, embora estas queiram passar por potênciais ferimentos.

ventriloquismo


O meu cérebero é um amontoado de rascunhos. Mesmo aquilo que passa por redação final é passos em falso, ainda que poeticamente peremptórios ou filosoficamente embriagantes.

Encaracolamo-nos no orgulho para que as emoções se enegreçam e a amada desponte como um obscuro prémio que imerecidamente nos é oferecido sob a capa de devotas fantasias.

Pensar é crescer devagar numa toca – mas o que queremos é ser tocadas por mãos que ritmicamente se despeçam do espirito.

O amor que amorosamente se filosofa espanta a morte? Ou espanca-nos conceptualmente?

Esta agudeza familiar e afásica que nocturnamente nos replica e engole é a argucia de uma natureza que não pactua com definições pardas.

O silêncio é ventriloquo – por isso a inteligência se deixa embalar, mas não derrotar, na veemência da transe.

A sua continência enfatuava não só a matéria, como tornava gordurosos os meandros do suposto espirito.

E que enfabulado seja o teu nome.

Despede-te devagar da arte que para ti se vai despindo, até que a sua nudez original revele a banalidade (ou a prolixidade) do divino.

A outra face da moeda era a impossibilidade de te possuir na posse, por mais que eu me diluisse amorosamente em excessos e algo nos abolisse em rápidas eternidades.

A estima não se compadece com estimativas.

O entendimento plausível é a convenção que jamais poderemos suportar.

A carta patente nesses olhos que se deixam ler de soslaio ficou registada para sempre.

A ambição sedimenta-se apenas na liberdade, isto é, na disponibilidade liberal para as melhores ocasiões.

As minhas ligações tornam-me mais indeterminada, menos concentradamente amorosa, mas mais expansiva, como as papoilas quando primaverilmente se propagam.

Vês-te livre da ironia, como de uma nausea que te obscurece os sentidos?

piramidalmente tua


Interrompes a insónia com uma lividez que empresta cores a outras faces – desfizeste-te da história, como de uma má cópia de empestados papiros, e deixaste-te devorar pelos crocodilos da fama só porque pensaste que a natureza gosta de exibir as fofas pregas das suas nádegas.

Era uma musa que se martirizava, que se deixava afagar por coktails tropicais, embora vociferasse como uma berbére. Apetecia-nos lamber o seu súor que sabia a um sabor imberbe.

Entraste nestes sonetos como num albergue rasca, com maneiras retocadas e tardias, mas ao amanhecer tornaste-te rápida como uma gazela procurando suculentos prados ao amanhecer.

Arquivo as musas num pudor dourado.

Os boatos rectificam o que os lovoures deixaram entreaberto.

Pensamentos torsos descaroçam palavras.

Há uma respiração de respeito que sua por debaixo do batôn da pitonisa.

Alguém, no bazar murmurou Amon, mas como a deusa, amada entre as amadas, se infiltrara no nosso peito, só podiamos soletrar sílabas que refrescassem os nossos sexualíssimos ardores.

Sunday, June 17, 2007

enxovais enxovalhantes


Os teus elogios são uma estratégia de pânico, como os selos que apocalipticamente abrem o que não sabe se se quer sequer revelável.

Abanicas em ti o tebano tirano, mas essa aragem não retira grilhões à consciencia – então constatas um fundo falso nas mães, por mais que as suas mãos relembrem antigas caricias e consumiveis peitos.

Desencantando encantadores livros me seduzes, mas não nupcialmente. Cruzes...

E assim ame, como um assassinato mal planeado, ou em retóricos sequestros vindos de retocados lábios.

O amor é douto antidoto de sabedorias.

Rugosas palavras amaciam-nos a pele, mesmo quando tomadas de empréstimo.

Simpatias de vácuo não vão para a cama com amizades recentes.

A sua pintura embrutece-nos as almas e põe-nos o sangue a trepar pelos mármores onde se assinalam as figuras futilissimas de faunos erectos.

Somos mais lisonjeiros quando abusamos.

Tu fazes de mim uma crioula, como se amar-te fosse uma necessidade só minha – o teu amor-próprio precisa de pinturas alheias, e de saber que nos teus parapeitos me inclino em anseios como uma furiosa feira de venenosas vaidades.

Débitos de poeta não recheiam romances.

E quanto a relatórios, pontue a seu bel-prazer a indizibilidade do extase, mas não o enxarque em adjectivos... afinal não passa de uma selva de grunhidos!...

O fremir dos clavicórdios torna modernas as belezas subterraneas que desfilam no desfiladeiro do estilismo.

Vem demasiado curto, mas se for valoroso saberá, com o devido respeito, crescer.

Sabes honrar decentemente como quem usa o silencio em maiores danos.

Dado que a beleza, não sendo voluntáriamente muda, é decerto o que mais muda.


Este tumulto no qual te entregaria de mãos beijadas a vida não tem vontades de se vulgarizar em placidez de túmulo.

Prefiro-me enxovalhada e enxuta do que enlatada em legados lamechas.

Imaturas somos no como nos guerreamos, por mais que nos alojemos em razões exemplares.
Exemplar é a reciprocidade bem ajardinada

prosperidades animais


O rasa mantê-lo-á flutuante – em cima as sensações passeiam-se, porque a arte devolve-nos algo anterior à ingenuidade, algo que não é silencioso, e que sobe de uma animalidade soberba para nos erguer a algo mais nobre que a divindade.

Então sentimo-nos prosperarando viciosamente nestas inclinações que são a alma espelhando-se mundo, e de uma só penada compreendemos que não há molde, nem para as nossas intimas singularidades, nem para os agenciamentos genésicos do absoluto.

O amor era a oportunidade de um auto-deterioramento como vizinhança de um sublime adiado.

Um epitáfio é uma oportunidade tardia de se dizer o «defenitivo» traindo assim as indefenições constantes que assombram a vida.

Cozinhamos pensamentos que prosperam como uma «intimidade» verbalizada e sentimos a soberba dessas palavras como uma mortalidade exquis – as obras não nos salvam do esquecimento, e vão-se deveras alheando no como as arquivamos, ainda que as vejamos como criaturas irrequietas.

Seu nome sabe a menta – refresca-me o medo de lhe provar o corpo, porque provando-o se lhe desfaz a imortalidade que a memória do não-acontecido monumentaliza.

Livros são constituidos por fórmulas mágicas que ficaram aprisionadas num sarcófago depositado num extremo subterrâneo do mundo.

O Ser é encenado pelo acaso – o que explica a inconstancia dos apetites mais fortes e a «fatalidade» de tantos disparates.

A respiração do mundo assenhora-se da nossa respiração como se fossemos narinas famintas – mas o ar é mais doce que os açucares no modo como nos entra e nos refresca os miudos meandros corpóreos.

Eu cedo à vertigem mansa da fidelidade, mas não posso castrar o desejo – por mais que a Musa se imagine mumificada e que a voz tenha perdido das inflexões da sedução o terno geito.

Digo Museu, como se a Arte não fosse clamor que, mesmo no seu desesperamento, se despede dos favores da clausura.

O conhecimento é favorecido por tuas garras, que o inscrevem hieroglificamente como arranhões neste corpo que dizes meu.

Tuesday, June 12, 2007

bombas e canela


Assim frequentemente me invocou a Musa, como se eu fora em seu socorro. Mas os bombeiros chegaram primeiro.

A memória é a citação de uma série de prudências que ficam como uma montagem de imagens na nossa «cabeça» - a memória sobra-nos como desejos desperdiçados em aguardar algo. Lembro-me do que ficou por acontecer. E se acontecesse...

Desperdiçamos as côres, e em particular a branquidão falsa que se fez passar por grega.

Examinamos os pensamentos para pôr conhecimento novo, ou com este lavar o que nos é mente – mas não é por isso que rejenuvescemos ou regressamos a criança, como uma tábua rasa que não é tábua, nem é rasa, e muito menos infantilmente pura.

O livro sabe melhor com um pouco de sal – o leitor enriquece temperando as leituras com a sua imanência.

O que é que Avicena terá lido em Aristóteles? A Metafísica como muita canela?

Os versos auxiliam-nos muito depois de escritos – quando nos estrangeiramos e as ângustias do mundo vêm, como piranhas, devorar as últimas esperanças.

É a mudez que faz a instrução dos olhos, ao mesmo tempo que lhes dispersa as vontades.

Adicionamos um duplo à nossa consciência porque é sempre agradável saber que algo nos duplica, mesmo como sombra ou ignorância.

O teu orgulho orgulha-me. A tua influência fluência-me.

Compilo, não num estilo emendado, mas porque uma giboia interna antologia fragmentos de uma graça que todos julgamos antiga mas que é tua.

Avanço até onde sobe o sabor do mosto. Páro. Sinto a influência ébria das tuas maneiras, e como, com elas contrastado, me sinto rude. O que era antes era ignorância sem candura.

Solidifico-me na solidão. Humedeço as palavras antes de as escrever – sinto a lingua provando a boca no que hesita, e esse silêncio palrado que é o das palavras procurarem ordem e sentido, ao mesmo tempo que buscam alguma desordem e sentidos para lá do sentido que andam semi-cegamente a adivinhar.

Cedo aos doces argumentos e revolto-me com repróbos – o poeta engana-nos, porque a doçura dos seus versos é a reprovação das nossas (e da sua?) passividade.

O seu porte já não comporta este comportamento.

A beleza é o que nos morde – desengana-te, amigo, se a imaginas como plasticina que dá prazer aos fantasmas da tua atenção.

Nada mais embaraçoso que o elogiu. Com ele seduzirás, não pela bajulação que dá trela ao amor próprio, mas pela fragilização imediata da consciencia, no que ela a si diz e no que ela aos outros atende.

Agracie-se – é melhor pagamento que os agradecimentos.

Largo hipérboles como bombas que talvez algo banhem. Mas sei que as hipérboles, tal como o bombismo, só revelam a fraqueza de uma condição cuja incerteza e fragilidade levam a espampanear.

O discurso torna mais fofo o divã – abre a cama... e fecha a fama.

O prazer é em boa parte humilhação, não no quanto há de humilhável (sado-masoquisticamente?), mas na condição fértil de ser de orgulhos despido... e porque sêr húmus é já humedecimento.

Erros são afundamentos que nos fundamentalmente nos fundamentam.

Este sentimento de disturbio interno é algo mais antigo que animalidade. Não se salva porém com o sabor de se sentir arcaico. Doravante não sabemos o que fazer às nossas intencionalidades.