Tuesday, May 18, 2010

recordações de um Mestre


Já lá vão muitos meses desde que morreu o M. S. Lourenço - foi no agosto e ele morreu porque o soube - agora deve estar num paraíso de lógica e de tradutores - os Parnasos rebaixam-se até nos encontrarem - já não precisamos de escadas rolantes.
mas o M. S. deixou obra, e pô-la num só volume antes de morrer. A seguir morreu o Benard da Costa. Não sei porquê mas acho que o Bénard da Costa faz parte da obra do M.S., é o cinema inclinando-se até que a musica e os axiomas o despovoem, e então percebe-se que por detrás da imagem de um barco a deslizar em canaviais há o sussurro malicioso da flauta que Midas toca às escondidas enquanto uma cóboia empunha com garra um pistolão

conhecemos o M.S. indirectamente - por exemplo, na tradução do fragmento inicial do Finnegans Wake (há quanto tempo não lhe lemos a traduçãozinha) - o M.S. ficou como uma promessa de uma obra poética que depois não lhe apeteceu - há uma magnifica entrevista on-line (com o Miguel Tamen em http://www.fl.ul.pt/pessoais/mslourenco/entrevista_tamen_MSL.pdf) que é um romance em miniatura - e que é uma lição do que nos fazem os rigores sobre a consciência - os rigores amarguram os seus cultores - e a excelência, como prática de uma cultura que só se pode elevar com "o que interessa" e é destruida pela banalidade crescente

Portugal é o lugar onde os portugueses se exilam e se asilam

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